Mesmo
parafraseando o famoso ditado acima, logo quando se lê vêm à mente o grande
filósofo do século XVIII, Karl Marx, que teve um esforço incansável para tentar
desmascarar toda e qualquer ideologia que possa retirar dos fatos reais uma
interpretação verdadeira. Indo na mesma linha do filósofo, o que se pretende
aqui é demonstrar a mídia como uma das mais fortes ideologias deturpadora dos
problemas sociais.
No entanto,
deve-se deixar claro que seria muita hipocrisia escrever um texto para a mídia
criticando a mesma mídia. Por isso, não é genericamente que será tratado o
assunto, mas, principalmente, da chamada GRANDE MÍDIA.
Dentre os
muitos aspectos que poderiam ser trabalhados à partir do tema, a atenção maior
estará voltada às tele-novelas diariamente ao alcance dos botões do nosso
controle remoto. Sabe-se que essas não podem ser algo de estrema ilusão, mas
devem trabalhar aspectos cotidianos com um floreio peculiar. Isso cria a idéia,
não de uma ficção bem montada, mas de uma trama onde os atores conseguem ser
reais em suas interpretações.
Sendo assim,
um ator ou uma atriz será tanto melhor quanto mais conseguir passar veracidade
à cena. Apesar de parecer a função óbvia dos atores, isso acaba prestando um
desserviço aos telespectadores, que deveriam assistir e ter a plena consciência
de que tudo o que está sendo passado é uma mentira. Mas os mesmos acabam por
idealizar modelos e padrões que, inconscientemente, serão buscados a duras
penas.
Em novelas,
dificilmente encontramos mulheres novas, ricas e “gordas”, pois essas são
apresentadas como empregadas domésticas ou, simplesmente, pobres. Os negros são
“condenados” a fazerem papéis de miseráveis, mau caráter ou como os que aceitam
reprimidamente a exclusão. Sempre existe um amor mal resolvido no começo, que
passa por uma rede de conspiração, engano, traição e decepção, mas que no final
acabará bem. Somente uma pessoa não acaba bem, a vilã ou o vilão do enredo, os
quais acabam no hospício, mortos ou na miséria.
Disso tudo,
que aparentemente são coisas desapercebidas na trama, temos ideologias
perversas. No primeiro caso temos a transmissão de um padrão idealizado de
beleza onde o melhor é ser magra. Com isso, conseguiremos ter dinheiro e fama.
Do contrário, se for gordinha, ou faça um regime para se encaixar nos moldes ou
está fadada a ser empregada doméstica e pobre.
Temos também o
caso com os negros, que já possuem toda uma história de exploração e repressão.
Nas famosas tele-novelas eles são novamente escravizados ideologicamente pela
mídia a não pensarem em alçarem vôos de mudança, já que os brancos se
acostumaram a não vê-los inseridos na alta sociedade e eles próprios, com baixa
autoestima, não se arriscam a grandes inovações.
Quando falamos
nos relacionamentos então, muitos aspectos podem ser levantados. Dificilmente
encontramos novelas onde existam casais fiéis, ou em que o casal do “amor
idealizado” seja pobre e termine o enredo pobre para mostrar que a felicidade
não depende de sua classe social. Sem falar no padrão de homem e mulher
perfeitos que muitos adolescentes, jovens e até adultos acabam esperando para
suas vidas ao verem os relacionamentos apresentados.
Já no caso da
vilã, fica nítida impressão de que ser uma pessoa má muitas vezes vale a pena,
já que o “bonzinho” sofre a novela toda pelas conspirações e tramas armadas e
só conseguirá ser feliz no último capítulo. Já o personagem maldoso, se dá bem
a novela inteira e somente no último capítulo vai acontecer algo de ruim. Isso
quando ele não termina na miséria, demonstrando que quem está nessa situação
(que não são poucos) é porque fez alguma coisa de errado na vida.
Com tudo isso,
que na verdade é uma pequena parte de tudo que se passa nas tele-novelas,
muitas vezes ficamos preocupados com nossas crianças em preservá-las de cenas
de sexo. Entretanto, muitas são as ideologias apresentadas por essa programação
muito mais prejudicial, ou seja, os padrões de comportamento, de moda, de
felicidade, de economia e a rede de maldades que eles nos colocam como se na
sociedade fosse da mesma forma: os bonzinhos e os maldosos travando batalhas.
Na verdade, o
que se esquece de dizer é que na sociedade real, nem sempre o bem vence no
final, que existe uma má administração governamental que nos oprime a
continuarmos com a mesma classe social e que o poder continua nas mãos dos
ricos, os mesmos que no horário nobre nos vendem as drogas. Talvez se Marx
estivesse vivo se espantaria em ver como a manipulação da religião é minúscula
ante a abrangência e os recursos utilizados por essa grande mídia. Assim, nosso
título seria integralmente de quem o proferiu pela primeira vez.