Invariavelmente
nos anos que vão transpassando os tempos, percebemos como as chuvas vão
castigando a sobrevida do povo brasileiro em grande parte do território
nacional. Águas torrenciais passam e levam vidas construídas com grandes
esforços e, muitas vezes, contando com a sorte para sobreviver em um contexto
social deplorável, onde ninguém é lembrado ano após ano.
Ao deparar-me
com as tragédias dos últimos dias, lembrei-me dos povos antigos que viviam em
função das cheias do Rio Nilo. Um povo basicamente agrícola, que desenvolveu um
inteligente sistema de sobrevivência a fim de utilizar a natureza em função de
uma necessidade humana. Quando o Rio enchia, trazia junto consigo a fertilidade
para as terras inundadas, garantindo o sustento de grande parte da população.
No entanto, nada era construído em suas margens, tendo em vista que era um ato
natural do Rio encher, transbordar e fecundar.
O que se vê
hoje é uma afronta às “leis naturais” as quais não mudaram muito. O rio continua
enchendo e inundando o que está à sua volta. O ser humano, no entanto,
desaprendeu o que o povo antigo sabia de cor.
O pensamento
natural que pode ser feito a partir dessa rápida comparação é que a “culpa” é
do próprio ser humano e mais especificamente dos pobres e miseráveis que
constroem na beira dos rios e nas encostas das montanhas... Um pensamento
enganoso!
O “boom”
imobiliário das especulações bancárias, a falta de fiscalização dos governos ou
a banalização do que deveria ser uma fiscalização em diversos setores e a falta
de estrutura social oferecida a essa população que acaba se sujeitando a morar
em lugares de risco pela “simples” questão da sobrevivência, podem explicar
muitos dos desastres que assolam o país ano após ano.
Há um mês e
meio atrás um incêndio paralisou o Brasil na boate Kiss em Santa Maria no Rio
Grande do Sul. Entretanto, ficou claro, pela divulgação de nossas mídias, que o
fato poderia ser evitado se a fiscalização estivesse em ordem e se os
proprietários e membros da banda usassem um pouco do bom senso. O resultado
desastroso todos conhecemos.
Infelizmente a
associação entre o espanto da tragédia em Santa Maria com o que ocorre todos os
anos, infalivelmente, no país em função das chuvas não choca ninguém e, muito
menos, a falta de infra-estrutura oferecida às pessoas que são obrigadas a viverem
nessa situação. Se o Rio Nilo e a Boate Kiss não foram capazes de nos ensinar
uma lição esperamos que o bom senso nos dê clareza para lutar pelo que deve ser
nosso direito.
Foto retirada do link: http://g1.globo.com/rj/serra-lagos-norte/fotos/2013/03/veja-imagens-dos-estragos-da-chuva-em-petropolis-rj.html#F749266




