terça-feira, 19 de março de 2013

Nem o Rio Nilo, Nem a Boate Kiss

  

Invariavelmente nos anos que vão transpassando os tempos, percebemos como as chuvas vão castigando a sobrevida do povo brasileiro em grande parte do território nacional. Águas torrenciais passam e levam vidas construídas com grandes esforços e, muitas vezes, contando com a sorte para sobreviver em um contexto social deplorável, onde ninguém é lembrado ano após ano.

Ao deparar-me com as tragédias dos últimos dias, lembrei-me dos povos antigos que viviam em função das cheias do Rio Nilo. Um povo basicamente agrícola, que desenvolveu um inteligente sistema de sobrevivência a fim de utilizar a natureza em função de uma necessidade humana. Quando o Rio enchia, trazia junto consigo a fertilidade para as terras inundadas, garantindo o sustento de grande parte da população. No entanto, nada era construído em suas margens, tendo em vista que era um ato natural do Rio encher, transbordar e fecundar.

O que se vê hoje é uma afronta às “leis naturais” as quais não mudaram muito. O rio continua enchendo e inundando o que está à sua volta. O ser humano, no entanto, desaprendeu o que o povo antigo sabia de cor.

O pensamento natural que pode ser feito a partir dessa rápida comparação é que a “culpa” é do próprio ser humano e mais especificamente dos pobres e miseráveis que constroem na beira dos rios e nas encostas das montanhas... Um pensamento enganoso!

O “boom” imobiliário das especulações bancárias, a falta de fiscalização dos governos ou a banalização do que deveria ser uma fiscalização em diversos setores e a falta de estrutura social oferecida a essa população que acaba se sujeitando a morar em lugares de risco pela “simples” questão da sobrevivência, podem explicar muitos dos desastres que assolam o país ano após ano.

Há um mês e meio atrás um incêndio paralisou o Brasil na boate Kiss em Santa Maria no Rio Grande do Sul. Entretanto, ficou claro, pela divulgação de nossas mídias, que o fato poderia ser evitado se a fiscalização estivesse em ordem e se os proprietários e membros da banda usassem um pouco do bom senso. O resultado desastroso todos conhecemos.

Infelizmente a associação entre o espanto da tragédia em Santa Maria com o que ocorre todos os anos, infalivelmente, no país em função das chuvas não choca ninguém e, muito menos, a falta de infra-estrutura oferecida às pessoas que são obrigadas a viverem nessa situação. Se o Rio Nilo e a Boate Kiss não foram capazes de nos ensinar uma lição esperamos que o bom senso nos dê clareza para lutar pelo que deve ser nosso direito.

Foto retirada do link: http://g1.globo.com/rj/serra-lagos-norte/fotos/2013/03/veja-imagens-dos-estragos-da-chuva-em-petropolis-rj.html#F749266

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